O torcedor bicolor viveu uma noite de tristeza e desilusão nesta sexta-feira (31). O Paysandu está oficialmente rebaixado para a Série C do Campeonato Brasileiro de 2026, após perder de virada para o Atlético-GO, por 2 a 1, no estádio Antônio Accioly, em Goiânia, pela 35ª rodada da Série B.
Mesmo saindo na frente do placar, o Papão da Curuzu não conseguiu segurar o ímpeto do adversário e acabou sofrendo a virada. O resultado decretou matematicamente o rebaixamento do clube paraense com três rodadas de antecedência, encerrando uma campanha marcada por irregularidade, instabilidade e frustrações dentro e fora de campo.
Com apenas 27 pontos conquistados em 35 jogos, o Paysandu amarga a lanterna da competição são cinco vitórias, 12 empates e 18 derrotas. O clube não tem mais chances de alcançar o Athletic-MG, primeiro time fora da zona de rebaixamento, que soma 37 pontos.
Queda anunciada: um ano de dificuldades e inconstância
A temporada 2025 do Paysandu foi um reflexo de erros acumulados e falhas de planejamento. Desde o início da Série B, o time teve dificuldades para encontrar um padrão de jogo, alternando entre atuações apagadas e raros lampejos de competitividade.
Nem mesmo a troca de comando técnico com a chegada de Márcio Fernandes, após a saída de Claudinei Oliveira conseguiu alterar o rumo da equipe. A defesa mostrou-se vulnerável durante toda a competição, e o ataque, ineficiente: foram apenas 26 gols marcados em 35 partidas, contra 55 sofridos, um dos piores saldos da divisão.
Internamente, a falta de estabilidade administrativa e de coerência nas contratações também pesou. O elenco, reformulado às pressas, nunca apresentou entrosamento. Jogadores rodados chegaram sem conseguir dar o retorno esperado, e jovens revelações tiveram pouco espaço ou foram lançadas em momentos de extrema pressão.
“O Paysandu jogou grande parte do campeonato pressionado, sem confiança e sem repertório tático. É difícil reagir quando o ambiente já está tomado pela descrença”, avaliou um torcedor.
Campanha trágica e números que explicam a queda
A campanha do Paysandu em 2025 beira o trágico. Das 38 rodadas da Série B, o time ficará 35 delas dentro da zona de rebaixamento. A única exceção foi um breve respiro entre a 17ª e a 18ª rodadas, quando o clube venceu dois jogos seguidos sob o comando de Claudinei Oliveira e chegou a sonhar com uma reação.
Mas o fôlego durou pouco. Nas rodadas seguintes, o desempenho despencou, e a equipe voltou a frequentar o Z-4 sem conseguir sair mais. O time bicolor também ostenta o título indesejado de menos vitórias e mais derrotas da competição.
Em campo, faltou consistência. O time começou bem em Goiânia, abrindo o placar com um belo gol de fora da área, mas não soube administrar a vantagem. O Atlético-GO cresceu na segunda etapa, pressionou e virou o jogo, selando o destino do Papão.
Com o resultado, o Paysandu se tornou o primeiro time matematicamente rebaixado da Série B. Mesmo que vença os três jogos restantes contra Coritiba e Amazonas na Curuzu, e o Athletic-MG fora de casa , não alcançará pontuação suficiente para escapar da queda.
A volta à Série C: um roteiro repetido na história do Papão
O rebaixamento de 2025 representa o oitavo descenso da história do Paysandu. O clube paraense havia passado cinco temporadas consecutivas na Série C, antes de conquistar o acesso em 2023 e permanecer na Série B em 2024.
A permanência, porém, durou pouco. Em 2025, o time voltou a enfrentar os mesmos problemas que marcaram os anos anteriores: elenco limitado, falhas no planejamento e ausência de regularidade.
Para muitos torcedores, o sentimento é de frustração e impotência. “É duro ver o Paysandu nessa situação de novo. Subimos com tanta esperança e agora tudo se perdeu em menos de dois anos”, lamentou o torcedor Eduardo Figueiredo, que acompanha o clube desde os anos 1990.
O cenário também reacende o alerta sobre a necessidade de reestruturação. A queda para a Série C implica redução de receitas de televisão, menor visibilidade nacional e desafios financeiros que podem impactar a próxima temporada.
O peso da história e a força da Curuzu
Fundado em 1914, o Paysandu é um dos clubes mais tradicionais do futebol brasileiro e dono de uma das torcidas mais apaixonadas do país. Com sede em Belém (PA), o Papão da Curuzu acumula títulos regionais e um histórico de grandes feitos, como a Copa dos Campeões de 2002, que o levou à disputa da Copa Libertadores de 2003.
No entanto, nos últimos anos, a realidade do clube tem sido marcada por altos e baixos. Desde 2018, o time não consegue se manter por mais de duas temporadas consecutivas na Série B. A oscilação entre divisões tem dificultado a consolidação de um projeto esportivo de longo prazo.
Na Curuzu, o sentimento é de pesar, mas também de esperança. Apesar do rebaixamento, parte da torcida promete seguir apoiando a equipe até o fim da temporada. “A gente não abandona. Já caímos antes e voltamos. Vamos voltar de novo”, afirmou o sócio e torcedor Marcos Cardoso.
Repercussão e próximos passos
A derrota e o rebaixamento repercutiram de forma imediata. Nas redes sociais, torcedores expressaram tristeza e revolta com a campanha. Hashtags como #VoltaPapão e #ForçaBicolor ficaram entre os assuntos mais comentados entre os torcedores do Norte.
A diretoria ainda não se manifestou oficialmente sobre o planejamento para 2026, mas a tendência é de profunda reformulação no elenco e mudanças estruturais no departamento de futebol. O técnico Márcio Fernandes deve permanecer até o fim da Série B, mas sua continuidade no próximo ano será avaliada.
A meta, segundo fontes ligadas ao clube, é montar um elenco competitivo para retornar à Série B já em 2027. No entanto, para isso, o Paysandu precisará corrigir falhas recorrentes, investir na base e adotar uma política financeira mais rigorosa.
Os últimos compromissos na Série B
Com o rebaixamento já confirmado, o Paysandu agora cumpre tabela nas três rodadas finais. O clube encara o Coritiba, na Curuzu, na próxima terça-feira (4); em seguida recebe o Amazonas, também em casa; e encerra sua participação na competição contra o Athletic-MG, fora de Belém.
Mesmo sem chances de escapar, o time deve usar as partidas restantes para avaliar peças do elenco e dar minutos a jovens da base, pensando na montagem do grupo para a Série C de 2026.
O objetivo, segundo integrantes da comissão técnica, é encerrar o campeonato com dignidade e respeito à camisa bicolor, dando ao torcedor ao menos um pouco de alento após um ano de tantas decepções.
Reflexão de um rebaixamento que pede mudança
A queda do Paysandu não é apenas um episódio isolado. Ela reflete a necessidade urgente de reorganização estrutural dentro do clube, de planejamento esportivo responsável e de investimentos em formação de atletas.
O rebaixamento, embora doloroso, pode servir como ponto de virada. A história mostra que o Papão é capaz de se reinventar. E, como tantas outras vezes, o clube e sua torcida terão de caminhar juntos para recolocar o nome do Paysandu no cenário que ele merece o das grandes disputas nacionais.
Por Alemax melo | Revisão: Daniela Gentil
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