Quase metade das mulheres no Brasil (46%) acredita que não recebe tratamento respeitoso no país. A conclusão é da 11ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, o maior levantamento já realizado sobre o tema, divulgado nesta terça-feira (9).
Realizada pelo Instituto de Pesquisa DataSenado e pela Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) do Senado Federal, a pesquisa ouviu mais de 21 mil mulheres em todas as regiões brasileiras.
Os dados revelam que a percepção do machismo no Brasil é praticamente unânime: 94% das entrevistadas classificam o país como machista. O que mudou foi a intensidade dessa percepção: o grupo que considera o Brasil “muito machista” cresceu de 62% para 70% nos últimos dois anos.
Perigo nas ruas e o alerta em casa
O estudo mapeou onde as mulheres se sentem mais vulneráveis. A rua continua sendo o espaço mais hostil:
- 49% afirmam que as mulheres não são respeitadas nas vias públicas;
- 24% percebem desrespeito no ambiente de trabalho;
- 21% sentem falta de respeito em casa, pela própria família.
Um dado que chama a atenção dos pesquisadores é o ambiente doméstico. A percepção de que o desrespeito é maior em casa aumentou 4 pontos percentuais em relação a 2023. Isso representa cerca de 3,3 milhões de mulheres a mais que passaram a ver o lar como um local de insegurança.
Beatriz Accioly, antropóloga e especialista do Instituto Natura, avalia que esse aumento pode estar ligado a uma maior conscientização:
”Embora seja preocupante a percepção de que as mulheres não são respeitadas no círculo social mais íntimo, aquele que deveria ser um espaço de proteção, isso vai ao encontro dos números altos de violência doméstica no país.”
Violência em alta
A sensação de insegurança acompanha os dados de violência. Para 79% das entrevistadas, a violência doméstica aumentou nos últimos 12 meses — retomando o maior patamar da série histórica iniciada em 2017.
Além disso, a descrença na denúncia ainda é alta: 23% acreditam que as vítimas não denunciam as agressões, e apenas 11% acham que a denúncia ocorre “sempre” ou “na maioria das vezes”.
Desigualdade regional e educacional
A pesquisa DataSenado/Nexus também expõe como a escolaridade influencia a vulnerabilidade social. Entre as mulheres não alfabetizadas, 62% afirmam que não são tratadas com respeito. Já entre aquelas com ensino superior, o índice cai para 41%.
Vitória Régia da Silva, diretora da Associação Gênero e Número, alerta que as desigualdades educacionais se convertem em vulnerabilidade: “Mulheres com menor acesso à educação formal não apenas percebem mais situações de desrespeito, como também enfrentam maior dificuldade para denunciar”.
Regionalmente, o Sul apresenta o maior índice de percepção de desrespeito ocasional (53%), enquanto no Nordeste, metade das mulheres (50%) afirma categoricamente que não são respeitadas.
Por: Laís Queiroz | Revisão: Pietra Gomes
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