Com participação de mais de 100 cientistas, edição especial da revista “Conservation Science and Practice in the Pantanal: From crisis to hope”, dos EUA, defende novas estratégias para enfrentar queimadas, desmatamento e projetos de risco no bioma brasileiro.
Mais do que um apelo ambiental, a nova edição de julho da revista é um grito de urgência em defesa do Pantanal. A publicação, lançada nos Estados Unidos, reúne artigos de mais de cem cientistas que se debruçaram por dois anos sobre os dilemas, riscos e caminhos para proteger a maior planície alagável do planeta, que é nossa, mas precisa entrar definitivamente na agenda internacional.
Coordenado por cinco especialistas de renome, entre eles o brasileiro Rafael Morais Chiaravalloti (University College London), o dossiê defende um pacto global de conservação baseado em ciência, políticas públicas eficazes e, principalmente, no protagonismo das comunidades locais. “Esse trabalho é uma ponte entre ciência e ação prática no território”, escreveu Chiaravalloti, ao divulgar a edição em suas redes sociais.
A publicação reconhece que existem boas iniciativas em curso: ecoturismo responsável, fundos ambientais e modelos de pecuária sustentável. Mas também deixa claro que há muito a ser enfrentado. As ameaças não são pequenas, vão desde queimadas recorrentes e desmatamento até projetos como a transformação do Rio Paraguai em hidrovia, que pode comprometer de forma irreversível a biodiversidade da região.
O alerta é direto: um terço dos corredores ecológicos do Pantanal já desapareceu. E, mantido o ritmo atual, a estimativa é de que 14 mil km² de vegetação nativa sejam perdidos até 2050. Some-se a isso os efeitos das mudanças climáticas e o abandono do conhecimento tradicional, e temos um cenário crítico, mas não sem saída.
O plano dos pesquisadores propõe governança compartilhada, incentivos econômicos à conservação e oito princípios orientadores que respeitem a singularidade do bioma e de seu povo. A ideia é simples e poderosa: para preservar o Pantanal, é preciso ouvi-lo, e ouvir quem vive e resiste nele.
O Brasil tem nas mãos um dos maiores patrimônios ambientais do planeta.
Ignorá-lo seria uma tragédia. Cuidar dele com ciência, afeto e responsabilidade é a única escolha possível.
Por Kátia Gomes | Revisão: Daniela Gentil
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