A cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Centro-Sul do Paraná, vive uma das piores tragédias climáticas de sua história. Um tornado com ventos estimados entre 180 km/h e 250 km/h atingiu o município no fim da tarde de sexta-feira (7), deixando um rastro de destruição quase total. A Defesa Civil confirmou ao menos seis mortes e cerca 400 feridos, número que pode aumentar conforme as equipes de resgate avançam nos escombros.
Segundo levantamentos preliminares divulgados pela Prefeitura de Rio Bonito do Iguaçu e pela Defesa Civil do Paraná, cerca de 80% das construções entre residências, comércios e prédios públicos foram completamente destruídas. Árvores, postes e veículos foram lançados a metros de distância pela força dos ventos.
“Há muitos feridos e os hospitais estão superlotados”, relatou o prefeito Sezar Augusto Bovino, em entrevista coletiva. Para tentar conter o caos, a prefeitura montou um hospital de campanha e mobilizou servidores e voluntários para ajudar nas buscas. Dos feridos, 30 estão em estado grave e outros 100 apresentam lesões leves a moderadas.
Com pouco mais de 14 mil habitantes, o município fica a cerca de 400 quilômetros de Curitiba e registrou o fenômeno mais intenso desde que há medições na região. Moradores relatam que o céu escureceu repentinamente, e em poucos minutos o vento destruiu casas inteiras.
Governador decreta calamidade pública
O governador Ratinho Junior anunciou neste sábado (8) o decreto de calamidade pública (Decreto 11.838/2025) em Rio Bonito do Iguaçu, permitindo o uso imediato de recursos estaduais e federais para reconstrução.
“Como cerca de 90% da cidade foi afetada, decretamos calamidade pública para dar celeridade aos atendimentos e à liberação de recursos. A Cohapar já está estudando estratégias para reconstrução das moradias e estamos preparando alojamentos para garantir o amparo às famílias”, afirmou o governador, que acompanhou pessoalmente o trabalho das equipes no local.
O governo estadual deslocou 50 bombeiros, ambulâncias e equipes da Copel e da Sanepar para restabelecer energia, água e telecomunicações. Municípios vizinhos como Laranjeiras do Sul, Cantagalo, Porto Barreiro, Nova Laranjeiras e Candói também registraram estragos com os temporais e enviaram reforços.
O subcomandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Jonas Emmanuel Benghi Pinto, informou que a prioridade é a localização de desaparecidos e o atendimento hospitalar. “Estamos atuando com triagem, resgate e policiamento. O cenário é de devastação total”, disse o oficial.
Hospitais em colapso
O Hospital São Vicente, em Guarapuava, divulgou nota informando que opera em capacidade máxima. A unidade pediu que a população procure atendimento apenas em casos graves ou urgentes.
“Esta colaboração é fundamental para que possamos concentrar nossos esforços em quem mais precisa neste momento. Estamos trabalhando de forma integrada com as autoridades locais e regionais, garantindo assistência contínua e segura a todos que necessitam de atendimento emergencial”, afirmou o comunicado.
Ambulâncias com vítimas foram encaminhadas também para hospitais em Laranjeiras do Sul e Cascavel, conforme informações do Corpo de Bombeiros.
Enquanto isso, ginásios e escolas municipais estão sendo utilizados como abrigos temporários para centenas de famílias desabrigadas. A Defesa Civil montou pontos de arrecadação de alimentos, roupas e cobertores em cidades da região.
Mobilização federal
De Bogotá, na Colômbia, onde participa da Cúpula da Celac, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou mensagem de solidariedade às famílias afetadas e anunciou o envio de ministros e equipes de apoio ao Paraná.
Lula determinou que a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o ministro interino da Saúde, Adriano Massuda, seguissem imediatamente para o estado em avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Eles estão acompanhados de técnicos da Defesa Civil Nacional, da Força Nacional do SUS e do Cenad (Centro Nacional de Gerenciamento de Desastres).
“O governo federal fará o que for possível para apoiar a região. Seguiremos prestando todo o auxílio necessário à população paranaense”, declarou o presidente em sua conta no X (antigo Twitter).
Segundo o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, será publicado um decreto de reconhecimento da calamidade pública ainda neste sábado (8). A medida permitirá a liberação imediata de recursos federais para atendimento humanitário, desobstrução de vias e reconstrução de moradias.
“Estamos montando um plano de ajuda humanitária para atender os atingidos com medicamentos, água, colchões e equipes especializadas em reconstrução”, explicou Góes.
Fundo estadual e resposta rápida
O Paraná conta com um Fundo Estadual de Calamidade Pública, administrado pela Defesa Civil, que financia ações emergenciais e de reconstrução. Nesta semana, o governo estadual destinou R$ 50 milhões ao fundo, reforçando a capacidade de resposta a eventos extremos.
Esses recursos serão utilizados para reconstruir infraestruturas danificadas, oferecer abrigo temporário, adquirir materiais de assistência humanitária e restabelecer serviços básicos.
“É um esforço conjunto entre estado e União para que o atendimento chegue de forma rápida e eficiente”, destacou o secretário estadual da Segurança Pública.
Solidariedade e reconstrução
Nas ruas cobertas de entulho e poeira, moradores tentam recuperar o pouco que sobrou. Em meio a ruínas, voluntários ajudam a retirar escombros e distribuir água potável.
Grupos de voluntários e organizações civis se mobilizam em toda a região para recolher doações. Igrejas e associações de bairro abriram postos de coleta de alimentos e produtos de higiene.
A Cruz Vermelha Brasileira confirmou o envio de equipes ao Paraná, junto com caminhões de mantimentos e kits de abrigo. A entidade também abriu uma conta emergencial para doações em dinheiro, que serão usadas na compra de itens essenciais.
Eventos climáticos extremos em alta
O tornado em Rio Bonito do Iguaçu reforça o alerta sobre o aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o fenômeno foi causado pela combinação de instabilidade atmosférica intensa, calor acumulado e frentes frias vindas do Sul.
Nos últimos meses, o Paraná vem registrando chuvas acima da média e tempestades mais violentas. Especialistas alertam que mudanças climáticas globais têm contribuído para o agravamento de desastres naturais, exigindo melhor planejamento urbano e investimento em prevenção.
Luto e esperança
Enquanto máquinas removem escombros, equipes de resgate continuam as buscas por desaparecidos. As igrejas locais realizaram orações pelas vítimas, e o clima na cidade é de comoção e solidariedade.
As aulas foram suspensas por tempo indeterminado e a prefeitura decretou luto oficial de três dias.
Apesar da destruição, o prefeito Sezar Bovino acredita na recuperação: “Vamos reconstruir nossa cidade. Rio Bonito do Iguaçu vai renascer, com a força da nossa gente e a ajuda de todos.”
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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