Com a morte do Papa Francisco aos 88 anos, o Vaticano inicia um período delicado e altamente ritualístico conhecido como Sede Vacante. Durante essa fase, a Sé Apostólica — sede da Igreja de Roma — é administrada temporariamente por uma figura central: o Camerlengo, cardeal responsável por gerenciar o Vaticano até a eleição de um novo papa.
Atualmente, o posto é ocupado pelo cardeal irlandês-americano Kevin Farrell, nomeado para a função em fevereiro de 2019, após o falecimento do cardeal francês Jean-Louis Tauran. Farrell tem agora a missão de conduzir o Vaticano pelos trâmites do luto papal e garantir que a transição ocorra de forma segura, organizada e em conformidade com as regras milenares da Igreja.
Entre suas atribuições, uma das primeiras é atestar oficialmente a morte do pontífice. De acordo com a tradição, esse ato solene é realizado com três toques de um martelo de prata na cabeça do papa, enquanto o Camerlengo pronuncia seu nome. Esse rito simbólico marca oficialmente o início da Sede Vacante.
As diretrizes que regem o papel do Camerlengo estão detalhadas no documento Universi Dominici Gregis, promulgado por João Paulo II na década de 1990. Segundo o texto, após confirmar o óbito, o Camerlengo lacra os aposentos e o escritório papais, preservando tudo intocado até a chegada do novo pontífice.
Cabe também a ele a organização do funeral do papa, tarefa que pode envolver a coordenação de protocolos internos, o deslocamento do corpo, restrições à imprensa e até mesmo a contenção de imagens não autorizadas. Essas ações são realizadas com o apoio e a aprovação do Colégio de Cardeais, que acompanha cada etapa.
Além dos aspectos cerimoniais, o Camerlengo assume temporariamente a administração dos bens materiais da Santa Sé, incluindo propriedades como o Palácio Apostólico, o Palácio de Latrão e Castel Gandolfo — residência de verão do papa, retratada no filme Dois Papas, dirigido por Fernando Meirelles.
Quando o conclave for convocado, o Camerlengo terá a missão de garantir que todo o processo seja conduzido com o máximo de sigilo. A Capela Sistina, onde os cardeais se reúnem para votar, passa por uma vistoria prévia rigorosa, supervisionada pessoalmente por ele, para eliminar qualquer possibilidade de espionagem ou vazamento.
Por fim, por integrar o Colégio de Cardeais, Kevin Farrell também participará da eleição do novo líder da Igreja Católica.
O mundo católico aguarda agora os próximos passos do Vaticano e o início do conclave, que definirá o futuro da maior comunidade religiosa do planeta.
Por Alemax Melo | Revisão: Camilly Barros