Imagine comprar uma salada fresca e só precisar consumi-la semanas depois, sem pressa e sem geladeira. Essa ideia, que parecia utópica, está se tornando realidade graças a uma tecnologia inovadora desenvolvida por cientistas do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) em parceria com a Aliança Singapura-MIT para Pesquisa e Tecnologia (SMART). A equipe criou um método revolucionário que utiliza microagulhas ultrafinas feitas de seda biodegradável para injetar melatonina diretamente nos vegetais após a colheita, prolongando significativamente sua vida útil.
Nos testes iniciais com o pak choi, vegetal da mesma família do repolho e do brócolis, amplamente consumido na culinária asiática, a técnica aumentou a durabilidade das folhas em até quatro dias em temperatura ambiente e 10 dias na geladeira. Em condições refrigeradas, as folhas permaneceram viáveis por até 25 dias. Os resultados foram publicados na prestigiada revista científica Nano Letters.
Essa tecnologia pode ser uma poderosa aliada na luta contra o desperdício de alimentos e a insegurança alimentar, especialmente em regiões com pouca ou nenhuma infraestrutura de refrigeração. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), mais de 30% dos alimentos produzidos no mundo são perdidos após a colheita, volume suficiente para alimentar mais de 1 bilhão de pessoas.
A inovação consiste em pequenas agulhas feitas de proteína de seda, que penetram de forma delicada na superfície cerosa dos vegetais sem causar danos visíveis. As microagulhas liberam doses controladas de melatonina, o mesmo hormônio que regula o sono nos seres humanos, mas que, nas plantas, atua como protetor contra o estresse oxidativo e o envelhecimento celular.
Durante os testes, o pak choi não tratado apresentou sinais de deterioração em apenas dois dias fora da geladeira. Já as folhas tratadas com a nova tecnologia mantiveram sua aparência comercial por até oito dias. Refrigeradas, resistiram ao amarelamento por impressionantes 25 dias. “A melatonina desencadeou uma reação protetora, preservando a clorofila e retardando a senescência natural”, explica Monika Jangir, coautora do estudo.
Apesar dos resultados animadores, os pesquisadores reconhecem que ainda há desafios para viabilizar a aplicação em larga escala. Atualmente, o procedimento é feito manualmente, folha por folha, algo inviável no campo. A próxima etapa será adaptar a técnica para que possa ser aplicada por tratores, drones ou sistemas automatizados de irrigação. “Para que os agricultores adotem a tecnologia, ela precisa ser economicamente viável”, ressalta Marelli.
A equipe também estuda a aplicação de outros hormônios naturais para modular não apenas a durabilidade dos alimentos, mas também sua textura, sabor e valor nutricional. O objetivo é transformar o pós-colheita, tornando os vegetais mais resistentes e saudáveis, mesmo em ambientes adversos.
Essa pesquisa abre caminho para um futuro em que alimentos frescos sejam acessíveis a mais pessoas, mesmo em locais onde falta energia elétrica ou infraestrutura de refrigeração. Um avanço que alia biotecnologia, sustentabilidade e segurança alimentar.
Por Laís Queiroz | Revisão: Daniela Gentil
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