A vereadora Camilla Gonda (PSB), de 24 anos, denunciou nesta terça-feira (27) um caso de violência política de gênero na Câmara Municipal de Curitiba. O ataque partiu do vereador Olimpio Araujo Junior (PL), que, por meio de suas redes sociais, afirmou que a colega “finge trabalhar” e “só aparece de salto” no Instagram.
“Camilla Gonda, por exemplo, no seu Instagram só aparece de salto alto, fingindo que está trabalhando nas ruas. Não tem absolutamente nada pra mostrar além de lacração”, escreveu o parlamentar, em um vídeo divulgado em suas redes. A publicação gerou forte repercussão negativa e motivou posicionamentos de repúdio dentro e fora da Câmara.
Durante a sessão plenária, Gonda reagiu com firmeza às declarações. “Um homem que reduz o trabalho de uma mulher a detalhes superficiais, como se isso definisse competência. Eu digo com firmeza que o problema não é o meu salto, o problema é que eu incomodo. Sejamos sinceros, eu incomodo porque faço política de verdade, porque trabalho e porque tenho compromisso com a população”, afirmou.
A parlamentar apresentou um comparativo das atividades legislativas realizadas por ela e por Olímpio Araujo. Desde o início do ano, Gonda protocolou 1.015 proposições, mais que o dobro das 469 apresentadas por Araújo. “O que você chama de ‘lacração’, eu chamo de transparência”, disse, reforçando que não aceitará ser desqualificada por sua aparência ou por seu posicionamento político.
Não é a primeira vez
Ataques relacionados à aparência das vereadoras de Curitiba não são novidade. Ainda na posse da atual legislatura, Gonda e outras parlamentares foram alvo de uma matéria publicada no Blog do Tupan, que afirmava que as vereadoras “resolveram sexualizar” o evento e usaram “decotes provocantes” no Palácio Rio Branco. O conteúdo foi retirado do ar após forte reação da sociedade civil e de movimentos feministas.
Na tribuna, Olimpio Araujo se defendeu, dizendo que sua fala não foi “de homem para mulher, mas de vereador para vereadora”. Ele alegou que o vídeo foi uma resposta a críticas feitas por Gonda a um de seus projetos de lei e acusou a parlamentar de não realizar entregas efetivas à população, especialmente nos bairros periféricos da cidade. “Eu sei o que é trabalho de verdade”, afirmou, desafiando Gonda a apresentar seus resultados.
As vereadoras Professora Angela (PSOL), Giorgia Prates (PT) e Vanda de Assis (PT) se manifestaram em solidariedade a Camilla Gonda, destacando que as falas de Araujo configuram violência política de gênero uma prática que visa silenciar e intimidar mulheres que ocupam espaços de poder.
“Esse tipo de ataque não é apenas um comentário infeliz. É uma tentativa de deslegitimar o trabalho de mulheres parlamentares, de nos tirar do lugar de fala e de atuação”, destacou Giorgia Prates.
Camilla Gonda é a mulher mais jovem da 19ª Legislatura da Câmara Municipal de Curitiba. Com apenas 24 anos, ela assumiu o mandato em janeiro de 2025 após ser eleita com 3.062 votos. Defensora de pautas progressistas, juventude, cultura e mobilidade urbana, é também a segunda vice-corregedora da Câmara, líder do bloco PT-PSB-PSOL e líder do seu partido, o PSB.
Atualmente, das 38 cadeiras da Câmara de Curitiba, apenas 10 são ocupadas por mulheres, o que representa pouco mais de 26% da composição legislativa. A sub-representação feminina, mesmo diante de avanços em participação política, ainda é um reflexo do desequilíbrio estrutural que marca o cenário político nacional.
O episódio envolvendo Camilla Gonda e Olímpio Araújo reacende o debate sobre o machismo institucionalizado na política brasileira e levanta questionamentos sobre a real efetividade de mecanismos de proteção às mulheres no exercício de seus mandatos.
“Eu estou aqui para trabalhar. E não vai ser um salto alto, uma rede social ou a opinião machista de um colega que vai me parar”, concluiu Gonda, sob aplausos de parte do plenário.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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