A deputada licenciada Carla Zambelli (PL-SP), presa desde julho na Itália, participa nesta quarta-feira (10) de uma audiência decisiva na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Pela primeira vez desde a prisão, ela estará diante do hacker Walter Delgatti Neto, condenado junto com ela pela invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Uma fonte revelou ao MD News que a preocupação central da defesa é evitar que Delgatti traga novas revelações durante a oitiva. O temor é que ele se antecipe em possíveis colaborações, deixando Zambelli sem espaço para jogar sua última carta: a delação premiada.
Nos bastidores, a avaliação é clara. Caso todos os caminhos se fechem, a deputada poderia recorrer a uma delação como forma de tentar atenuar a pena. Mas, se o hacker falar antes, além de prejudicá-la diretamente, esvaziaria qualquer chance de negociação futura.
Na manhã de hoje, uma fonte relatou que Zambelli demonstrou forte ansiedade, repetindo que está “muito preocupada” com o depoimento. A defesa aposta na presença por videoconferência para tentar conter possíveis danos.
Zambelli deixou o Brasil no fim de maio, logo após a condenação pelo Supremo Tribunal Federal. Depois de quase dois meses foragida, foi presa em 29 de julho e segue detida na prisão de Rebibbia, em Roma.
O caso remonta a janeiro de 2023, quando o sistema do CNJ foi invadido e falsos documentos foram inseridos, incluindo uma falsa ordem de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. A investigação levou à denúncia contra Zambelli e Delgatti. Em maio, a 1ª Turma do STF confirmou a condenação: 10 anos de prisão, perda do mandato e multa para a deputada, e 8 anos e 3 meses para o hacker.
Agora, a CCJ da Câmara analisa o processo de cassação. O depoimento desta quarta-feira, inicialmente marcado apenas para ouvir Delgatti, ganhou novo peso com a presença remota da parlamentar.
Com o futuro político em jogo, Zambelli encara um dilema: tentar conter o hacker ou assistir à distância à possibilidade de que Delgatti enterre a última chance de sobrevivência política que ainda resta – a delação premiada.
Possível impacto em Bolsonaro
Nos bastidores, cresce a especulação sobre até onde Zambelli estaria disposta a ir. Fontes ouvidas pelo MD News afirmam que, até agora, a deputada preservou informações sensíveis envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas não se descarta que, diante do aperto judicial, ela revele episódios até hoje mantidos em sigilo.
A própria Zambelli já havia admitido se sentir “abandonada” pela ala bolsonarista, o que adiciona peso às especulações. Para ela, a escolha é dramática:
- O silêncio pode resultar em uma condenação dura e sem atenuantes.
- A colaboração significaria romper de vez com o clã Bolsonaro, implodindo uma aliança que definiu sua trajetória política.
Enquanto isso, em Brasília, aliados do ex-presidente tentam desdenhar do caso, classificando-o como mera especulação. Mas, longe dos microfones, a apreensão é evidente: a possibilidade de que uma das escudeiras mais fiéis de Bolsonaro se torne sua maior ameaça paira como uma sombra sobre o núcleo político do ex-mandatário.
Por: David Gonçalves – Correspondente do MD Newa na Itália | Revisado por: Redação