Em depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou as acusações que o apontam como líder de um suposto plano para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após as eleições de 2022.
Bolsonaro afirmou que os atos antidemocráticos ocorridos em 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram prédios públicos em Brasília, “não configuram golpe de Estado”. “O 8 de janeiro preenche os requisitos para um golpe de estado? Eu acho que não”, declarou.
Discussões sobre GLO e negativas a estado de defesa
O ex-presidente confirmou que discutiu a possibilidade de decretar Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para lidar com a paralisação de caminhoneiros que rejeitavam a vitória de Lula. Segundo ele, essas discussões foram limitadas a “questões jurídicas” e foram abandonadas após poucas reuniões.
Bolsonaro negou ainda que o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, tenha colocado tropas à disposição para qualquer ação que configure golpe. “Em hipótese alguma. Não existe isso”, afirmou.
Multa de R$ 22 milhões ao PL e Apoio Financeiro via PIX
Bolsonaro admitiu que a multa de R$22,9 milhões aplicada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao Partido Liberal (PL) por litigância de má-fé “abalou” o partido e motivou o fim das críticas públicas ao sistema eleitoral. “Decidimos encerrar qualquer discussão sobre o resultado das eleições”, afirmou.
Apesar de pedir a reconsideração da multa, o ministro Alexandre de Moraes explicou que o processo “já transitou em julgado” e não cabe recurso.
Durante o depoimento, Bolsonaro afirmou que as campanhas de doações via Pix feitas por apoiadores foram essenciais para sua sobrevivência financeira diante de multas e processos. Ele estimou ter arrecadado cerca de R$18 milhões, brincando que superou o programa Criança Esperança.
Minuta de golpe, assessores e o plano “Punhal Verde Amarelo”
Bolsonaro negou envolvimento do ex-assessor Filipe Martins na elaboração da minuta que previa estado de exceção no país. Segundo ele, Martins “nunca foi para lá para falar de minuta”.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa Bolsonaro de ter formulado, editado a minuta e de ter conhecimento do plano “Punhal Verde Amarelo”, que previa atentados contra Lula, Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
Outros pontos do depoimento
O ex-presidente negou ter recebido voz de prisão por parte das Forças Armadas, contradizendo declarações do ex-comandante da Aeronáutica Carlos Baptista Jr.
Ele explicou também que não passou a faixa presidencial a Lula em janeiro de 2023 porque não queria se submeter ao atual governo, e que viajou aos Estados Unidos antes da posse.
Em tom descontraído, Bolsonaro convidou o ministro Alexandre de Moraes para ser seu vice na eleição de 2026, convite que Moraes recusou com bom humor.
Por fim, o ex-presidente afirmou não desejar ser condenado, pediu um julgamento justo e declarou ter “paixão pelo Brasil”, embora negue obsessão pelo poder.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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