Pedido de recuperação judicial e impacto nas operações
Apesar da crise financeira enfrentada nos últimos meses, a Azul Linhas Aéreas anunciou oficialmente nesta quarta-feira (28) que entrou com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. A medida foi feita com base no Capítulo 11 da Lei de Falências norte-americana, o chamado Chapter 11, um instrumento jurídico que permite às empresas renegociarem suas dívidas com credores ao mesmo tempo em que continuam operando normalmente. Segundo a empresa, essa etapa é fundamental para garantir a sustentabilidade das operações e preservar empregos.
A decisão, que já havia sido antecipada na terça-feira (27) pelo jornal Valor Econômico, segue uma tendência adotada por outras companhias brasileiras do setor aéreo, como a Latam e a Gol, que também recorreram ao Chapter 11 para superar crises financeiras nos últimos anos. Esse mecanismo é especialmente útil para empresas que têm parte relevante de sua operação ou dívida atrelada ao mercado internacional, oferecendo uma estrutura legal mais flexível para reorganização.
Plano financeiro e manutenção dos serviços
No caso da Azul, o plano de reestruturação financeira anunciado prevê um financiamento de US$1,6 bilhão e a possibilidade de novos aportes de capital que podem chegar a US$950 milhões. A companhia estima que, com a aprovação do plano, poderá eliminar mais de US$2 bilhões em dívidas, o que representa um alívio significativo na sua estrutura financeira. O objetivo, segundo a empresa, é garantir liquidez suficiente para atravessar o período de reestruturação sem comprometer a qualidade dos serviços oferecidos.
A empresa fez questão de ressaltar que todas as operações de voo e vendas de passagens seguem inalteradas, assim como o seu programa de fidelidade. Em nota oficial, a Azul destacou que “os clientes não perceberão nenhuma mudança no atendimento, na malha aérea ou nos benefícios acumulados”. Os pontos acumulados, promoções e demais vantagens do programa TudoAzul estão mantidos, sem restrições.
Apesar da continuidade nas operações, a companhia anunciou que passará por uma readequação significativa em sua frota, como parte do esforço para conter custos. A previsão é de uma redução de 35% no número de aeronaves em operação. Ao final de 2024, a empresa contava com 181 aviões e foi responsável pelo transporte de cerca de 30,8 milhões de passageiros. A reconfiguração da frota deve impactar principalmente rotas de baixa demanda e horários menos procurados, mas a Azul afirma que manterá sua presença nas principais capitais e centros logísticos do país.
Desafios, expectativas e reação do mercado
Fontes do setor aéreo ouvidas sob condição de anonimato afirmaram que o processo de recuperação deverá se estender até o final de 2025 ou, no mais tardar, o início de 2026. “A Azul se preparou tecnicamente para esse pedido e deve conseguir manter suas operações de forma estável durante esse período”, explicou um executivo ligado ao setor.
O CEO da empresa, John Rodgerson, comentou publicamente sobre a decisão. “Essa medida nos dá o fôlego necessário para reorganizar nossa estrutura de capital de forma ordenada. Nosso compromisso com o cliente permanece intacto, e vamos garantir que a experiência de voar com a Azul continue sendo positiva”, afirmou. Rodgerson também destacou que a decisão não foi tomada de forma repentina, mas sim após meses de análise e diálogo com investidores e credores.
No mercado financeiro, o anúncio provocou forte repercussão. As ações da Azul registraram queda expressiva na Bolsa de Valores logo após a confirmação do pedido de recuperação. A volatilidade já era esperada por analistas, que alertavam para a situação delicada das finanças da companhia. Ainda assim, muitos investidores consideram que o Chapter 11 é uma alternativa menos danosa do que uma falência tradicional, pois permite a reestruturação com a empresa em operação.
A crise que atinge a Azul não é isolada. O setor aéreo brasileiro vem enfrentando uma série de desafios desde a pandemia da Covid-19, com alta do dólar, aumento nos custos do combustível de aviação (QAV), inflação nos contratos de leasing de aeronaves e demanda instável em algumas rotas. Mesmo com a retomada gradual do turismo e das viagens corporativas, muitas empresas ainda não conseguiram recuperar os níveis de lucratividade anteriores à pandemia.
No caso da Azul, o impacto é potencializado por seu modelo de negócios, que aposta em voos para cidades médias e pequenas, muitas vezes com baixa concorrência, mas também com menor densidade de passageiros. A reconfiguração da malha aérea deve exigir da companhia um ajuste fino entre rentabilidade e presença regional.
Agora, com o processo de reestruturação em andamento, a Azul aposta em um plano robusto para reconquistar a confiança dos investidores e dos passageiros. A empresa afirma que manterá diálogo constante com todas as partes envolvidas, acionistas, credores, agências reguladoras e consumidores para garantir total transparência.
A Azul busca, assim, seguir voando com mais leveza nas finanças, sem turbulências para seus passageiros. O plano é ousado, mas necessário diante do cenário desafiador que se impõe ao setor aéreo tanto no Brasil quanto no exterior.
Por Alemax Melo | Revisão: Daniela Gentil
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