O maior grupo de mídia e TV do México, Grupo Televisa , está no centro de um escândalo que abalou o cenário midiático e político do país. De acordo com uma denúncia publicada pelo site Aristegui Noticias, a empresa seria responsável por comandar uma operação secreta de disseminação de fake news contra jornalistas, empresários e até magistrados da Suprema Corte.
A investigação, batizada de Televisa Leaks, revelou mais de 5 terabytes de dados vazados diretamente dos sistemas internos da emissora. Segundo o levantamento conduzido pela premiada jornalista Carmen Aristegui e sua equipe, o material inclui vídeos, fotos, roteiros, mensagens e documentos que comprovariam o envolvimento direto da Televisa em campanhas difamatórias, conduzidas a partir de uma das suas sedes, na Cidade do México.
A existência de um núcleo de operações, chamado Palomar, teria coordenado essas ações em parceria com a empresa Metrics Index, especializada em estratégias digitais. A célula atuaria com conhecimento da cúpula da Televisa e sob o comando do analista político Javier Tejado Dondé. Entre os executivos citados estão Rubén Acosta Montoya, diretor de Mídia para o México e América Latina da TelevisaUnivision, e Dora Alicia Martínez Valero, ex-diretora de Assuntos Eleitorais do grupo.
Uma das campanhas mais controversas, teria sido feita em apoio ao então juiz Arturo Zaldívar, presidente da Suprema Corte do México entre 2019 e 2022. Em troca de apoio midiático, a Televisa teria sido beneficiada com dois contratos públicos, incluindo a produção de um documentário institucional. Parte da campanha teria envolvido acusações falsas contra familiares de juízes que se opunham à nomeação de Zaldívar.
A rede clandestina da Televisa também teria mirado o bilionário Carlos Slim, dono da operadora Claro no Brasil, responsabilizando suas empresas pelo colapso da Linha 12 do metrô da Cidade do México, ocorrido em 2021. Ele também teria sido acusado de tentar privatizar a liga mexicana de futebol, numa disputa que envolveria o interesse da própria Televisa pelos direitos de transmissão.
A jornalista Carmen Aristegui, que revelou o escândalo, aparece mais de 300 vezes nos documentos vazados. Segundo a investigação, a emissora monitorava constantemente o site Aristegui Noticias e acionava bots e conteúdos adulterados para desacreditar a profissional quando se sentia ameaçada.
No Brasil, o caso foi repercutido pelo site TV Pop, que destacou os desdobramentos da denúncia e a repercussão negativa para a imagem da Televisa, inclusive fora do México.
O caso se assemelha ao Sedena Leaks, vazamento de 2022 que revelou que militares mexicanos vendiam armas a criminosos. A gravidade das acusações coloca em xeque a credibilidade de uma das principais empresas de comunicação da América Latina e pode gerar consequências jurídicas e políticas ainda imprevisíveis.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil