Mais de seis em cada 10 mulheres de 18 a 49 anos, moradoras em São Paulo, já tiveram uma gravidez sem planejamento, segundo pesquisa do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Para especialistas, essa constatação é muito grave, principalmente por ocorrer no estado mais rico do país.
O estudo faz uma relação entre vulnerabilidade social e maior risco de gestação não programada. Os casos, segundo o levantamento, ocorrem com mais frequência entre solteiras (85%), mulheres com menor grau de escolaridade (77%), negras e pardas (74%) e envolvidas com parceiros já comprometidos (72%).
Menos de dois filhos
O sociólogo Negli Gallardo-Alvarado, autor da pesquisa, ouviu 534 gestantes e ficou surpreso com o resultado. Segundo ele, enquanto o Brasil registra, em média, menos de dois filhos por mulher, índice abaixo do que os demógrafos chamam de taxa da reposição, os percentuais de gravidez não planejada seguem altos.
“As taxas em São Paulo são semelhantes a de outros países latino-americanos, onde a fecundidade é grande”, compara o sociólogo.
Para o ginecologista Luis Bahamondes, professor da Unicamp, os resultados da pesquisa são preocupantes. O principal motivo é que o índice de participantes que admitiram ter tido gestação não planejada superou os dados históricos em mais de dez pontos percentuais.
“Até então, a taxa média reportada na literatura sobre gravidez sem planejamento ficava entre 52% e 55%”, observa o especialista.
“Papel passado”
O pesquisador percebeu, durante o levantamento de informações, que estar casada “de papel passado”, diminuía a chance de a mulher engravidar sem premeditação. Além de estado civil, etnia e grau de escolarização, a pesquisa identificou como fatores contribuintes a falta de renda própria, a baixa escolaridade do parceiro e a quantidade de filhos tidos ao longo da vida.
Por conta disso, Bahamondes ressalta a necessidade de investir em medidas preventivas para diminuir os altos índices registrados no estudo.
“Métodos contraceptivos salvam vidas e o Brasil não investe em uma política de fornecimento de contraceptivos de longa duração, principalmente o dispositivo intrauterino [DIU] com hormônio e o implante hormonal, para que todas as mulheres consigam planejar seu futuro a longo prazo”, lamenta o médico.
Homem sempre se livra
Alvarado, por sua vez, lembra da importância em garantir acesso à educação superior a todas as mulheres, sobretudo as negras e as pardas, a fim de combater a gestação não programada.
“Quando acontece uma gravidez não planejada, particularmente para a mulher, há um antes e um depois. Ela vai ter de tomar decisões muito difíceis sobre a sua vida futura. Por conta do patriarcado e das desigualdades de gênero, geralmente, os homens têm se livrado dessa situação”, comenta o pesquisador.
O levantamento, realizado como tese de doutorado, fez parte de artigo publicado recentemente no periódico internacional The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care (a revista europeia de contracepção e cuidados com saúde reprodutiva).
***Com informações do Jornal da Unicamp
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Cristina Christiano é jornalista com extensa carreira profissional, tendo atuado em diversos veículos impressos e audiovisuais nas áreas de polícia, justiça, saúde, educação, comportamento, urbanismo, direitos humanos, economia, entre outras. Fez diversas reportagens especiais, além de séries de repercussão e recebeu já vários prêmios por seu trabalho.