O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta semana a prisão de Marcelo Costa Câmara, ex-assessor especial do ex-presidente Jair Bolsonaro. Câmara foi detido na cidade de Sobradinho (DF) por violar medidas cautelares impostas no âmbito do inquérito que investiga uma suposta organização criminosa ligada à tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
A decisão, assinada por Moraes, aponta que o ex-assessor manteve comportamento de “completo desprezo por esta SUPREMA CORTE e pelo Poder Judiciário”. Entre as violações registradas estão a utilização direta e indireta de redes sociais e o contato com outros investigados, mesmo que por intermédio de terceiros — o que contraria determinações judiciais expressas.
O STF entende que as ações de Câmara indicam a continuidade das práticas ilícitas investigadas e podem agravar sua situação processual. Ele era um dos nomes mais próximos a Bolsonaro no núcleo de confiança do ex-presidente.
Investigação contra advogado
O ministro também ordenou a abertura de inquérito contra o advogado Eduardo Kuntz, que atua na defesa de Marcelo Câmara. Moraes vê indícios de tentativa de obstrução das investigações por parte do advogado, com base em diálogos mantidos com Mauro Cid, delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
De acordo com o STF, Kuntz teria buscado detalhes sigilosos do acordo de delação premiada de Cid, por meio de mensagens trocadas via Instagram. Nessas conversas, Kuntz questiona Cid sobre o conteúdo de sua delação, dá sugestões sobre como se referir a Marcelo Câmara e pergunta se o acordo foi firmado de maneira espontânea ou sob pressão.
Como colaborador da Justiça, Cid está legalmente proibido de compartilhar qualquer informação de sua delação, que possui cláusula de confidencialidade. Além disso, os investigados estavam proibidos de manter contato, direta ou indiretamente, entre si. Para Moraes, as mensagens representam uma tentativa de embaraçar as investigações e violam as medidas impostas pelo Supremo.
Novo depoimento de Mauro Cid
Diante do novo cenário, Alexandre de Moraes também determinou que Mauro Cid preste novo depoimento à Polícia Federal. A decisão visa esclarecer o conteúdo das conversas com o advogado de Marcelo Câmara e avaliar se houve tentativa de interferência no processo colaborativo do ex-ajudante de ordens.
Em entrevista ao programa Estúdio i, da GloboNews, o advogado Eduardo Kuntz alegou que foi Cid quem o procurou e que sua atuação se limitou a uma “investigação defensiva”, com o objetivo de garantir a ampla defesa de seu cliente.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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