A inteligência artificial (IA) generativa tornou-se uma presença constante no cotidiano de milhões de pessoas. Contudo, por trás da aparente simplicidade de uma resposta rápida ou de uma imagem criada em segundos, existe um custo ambiental significativo. Os data centers consomem quantidades massivas de energia e água para operar incessantemente, levantando sérias questões sobre sustentabilidade e a responsabilidade no desenvolvimento de novas tecnologias.
O que são data centers e por que consomem tanto?
São instalações físicas robustas que abrigam milhares de servidores, sistemas de armazenamento de dados e complexos equipamentos de rede. Sua função é processar, armazenar e distribuir os dados que alimentam a internet, os serviços de nuvem e, cada vez mais, as aplicações de IA.
Para garantir que este fluxo de informação nunca seja interrompido, essas estruturas precisam operar 24 horas por dia, o que naturalmente demanda grande volume de recursos.
Atualmente, nações como EUA e China lideram em número de data centers, impulsionadas pela presença de gigantes da tecnologia como Amazon, Microsoft e Google. No entanto, esse protagonismo digital esconde um lado menos visível: o impacto ambiental crescente dessas instalações.
Impacto no consumo de energia
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o consumo global de eletricidade por data centers deve mais que dobrar até 2030: de 415 TWh (2024) para 945 TWh. A IA é a principal responsável por esse salto. EUA e China respondem por quase 80% deste crescimento.
Apesar do aumento do uso de energias renováveis, de 27% para 50% até 2030, o gás natural seguirá como fonte predominante, especialmente nos EUA. O treinamento de modelos de IA é altamente intensivo em energia, exigindo não só servidores potentes, mas também sistemas de resfriamento sofisticados.
Água: recurso oculto, mas essencial
A água também é usada para resfriar os servidores. Uma estimativa citada pelo The Washington Post indica que o GPT-4 pode consumir o equivalente a uma garrafa d’água para gerar um simples e-mail. Em escala, data centers gastam entre 11 e 20 milhões de litros de água por dia, o mesmo que uma cidade de até 50 mil habitantes.
Esse uso intensivo agrava a escassez hídrica em regiões vulneráveis e levanta preocupações mesmo em locais com boa disponibilidade hídrica, principalmente quando a água não é reutilizada.
Inovação vs. Sustentabilidade
A IA amplifica o consumo de energia e água. Por isso, o setor precisa buscar alternativas mais eficientes: modelos menos intensivos, hardwares otimizados e algoritmos sustentáveis devem ser prioridade.
Felizmente, as empresas já buscam reduzir seus impactos ambientais, as principais estratégias incluem criar sistemas de resfriamento mais eficientes, uso de água reciclada e localização estratégica de data centers em regiões frias, otimização energética e medição de impactos com indicadores.
Os desafios do Brasil
No Brasil, já existe o projeto da americana RT One em Maringá (PR), que pretende instalar data centers com GPUs da Nvidia, os equipamentos de alto consumo energético. A escolha da região Sul se baseia na proximidade com Itaipu e clima ameno, mas contrasta com os esforços de atrair investimentos para o Nordeste, rico em energia solar e eólica.
Diante desse cenário, o governo discute a criação da Política Nacional de Data Centers, o objetivo é tornar o Brasil mais atrativo para investimentos em infraestrutura digital com:
- Incentivos fiscais — Isenção de impostos para importação de equipamentos.
- Diretrizes para sustentabilidade — Eficiência energética e uso racional da água.
- Descentralização regional — Estimular projetos fora do eixo Sul-Sudeste.
Apesar do avanço nas discussões, entidades como o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) expressam preocupação com a falta de participação pública e clareza sobre os impactos sociais, ambientais e a privacidade dos usuários. O governo projeta investimentos significativos para os próximos anos, e a regulamentação dessa política pode definir o rumo da transformação digital no país.
Em geral, os data centers são fundamentais para o avanço da IA, porém seu impacto ambiental é real e crescente. O equilíbrio entre inovação e sustentabilidade é urgente, a indústria, o governo e a sociedade precisam agir conjuntamente para garantir que o progresso tecnológico respeite os limites do planeta.
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Por Pietra Gomes | Revisão: Daniela Gentil
