Negros morrem 3,7% mais que brancos. Os dados são do relatório da Unicef e do Fórum Brasileiros de Segurança Pública
O número de mortes de crianças e adolescentes no estado de São Paulo em decorrência de intervenção policial aumentou 120% entre 2022 e 2024. Em números absolutos, foram 77 crianças e adolescentes com idades entre 10 e 19 anos, mais que o dobro das 35 vítimas registradas em 2022. Os jovens negros são 3,7% mais vítimas que brancos.
Os dados são do 2º relatório “As câmeras corporais da Polícia Militar do Estado de São Paulo: mudanças na política e impacto nas mortes”, produzido pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os estudo foi divulgado nesta quinta-feira..
Considerando todas as crianças e os adolescentes vítimas de mortes violentas, 34% delas foram mortas por policiais, o que representa 1 em cada 3. Em 2022, esse percentual era de 24%. Entre adultos, a proporção passou de 9% em 2022 para 18%, no último ano.
Controle das Forças de Segurança
Em relação ao total de mortes gerais em ações da polícia houve aumento de 153,5% entre 2022 e 2024. Segundo o estudo, em batalhões que utilizam câmeras corporais a alta foi de 175,4%, enquanto nos que não usam de 129,5%.
O aumento no número de mortes, segundo o estudo, se deu no mesmo período em que ocorreram mudanças nos protocolos de uso das câmeras corporais e em outros métodos de controle das forças de segurança.
Entre essas mudanças estão redução de 46% no número de Conselhos de Disciplina, responsáveis por julgar os que cometeram infrações ou crimes; queda de 12,1% no número de processos administrativos disciplinares e de 5,6% nas sindicâncias instaurados.
Racismo
O relatório destaca que o crescimento da letalidade policial entre 2022 e 2024 afetou de forma desproporcional a população negra, inclusive entre crianças e adolescentes. Enquanto a taxa de mortalidade de pessoas brancas cresceu 122,8% em São Paulo no período, a de pessoas negras cresceu 157,2%.
No ano passado, a taxa de letalidade da PM em serviço entre crianças e adolescentes brancos foi de 0,33 para cada 100 mil, enquanto para negros chegou a 1,22.
Recomendações
A conclusão do relatório é de que nenhuma política pública sozinha pode solucionar o problema multifatorial da violência, inclusive fatal, e da letalidade policial. Recomendação:
. Uso de câmeras corporais com gravações ininterruptas.
. Compartilhamento de imagens produzidas com todos os envolvidos no sistema de justiça sempre que houver necessidade de produção de provas
. Auditoria rotineira das gravações produzidas pelas câmeras corporais, que deve acontecer por parte da polícia e de autoridades externas.
***Com informações da Agência Brasil

Cristina Christiano é jornalista com extensa carreira profissional, tendo atuado em diversos veículos impressos e audiovisuais nas áreas de polícia, justiça, saúde, educação, comportamento, urbanismo, direitos humanos, economia, entre outras. Fez diversas reportagens especiais, além de séries de repercussão e recebeu já vários prêmios por seu trabalho.