A Organização Mundial da Saúde (OMS) lança a campanha global “Começos Saudáveis, Futuros Esperançosos”, com foco na prevenção de mortes maternas e neonatais evitáveis. A iniciativa terá duração de um ano e busca reforçar o compromisso com a sobrevivência de mães e bebês ao redor do mundo.
Segundo a OMS, cerca de 300 mil mulheres morrem todos os anos por complicações na gestação ou parto, e mais de 2 milhões de bebês não sobrevivem ao primeiro mês de vida. Além disso, outros 2 milhões de natimortos são registrados anualmente — o que equivale a uma morte evitável a cada sete segundos.
O desafio da mortalidade materna no Brasil
Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, o Brasil ainda enfrenta números alarmantes em relação à mortalidade materna. Em 2021, a mortalidade materna atingiu 107,53 mortes a cada 100 mil nascidos vivos.
Para fins de comparação, em 2019, essa taxa era de 55,31 por 100 mil, e, em 2020, subiu para 71,97, representando um aumento de quase 25% em relação ao ano anterior. No total, o número de mortes maternas cresceu 77% entre 2019 e 2021. Os dados são do Ministério da Saúde e foram sistematizados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro.
Já em 2024, de acordo com o Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna do Ministério da Saúde, foram registrados 43.196 óbitos de mulheres entre 10 e 49 anos em todo o território nacional. As notificações abrangem tanto hospitais públicos quanto privados, sem distinção de cor ou raça.
Segundo o médico ginecologista e obstetra Caio Couto, que coordena a ala hospitalar do Hospital Anchieta, há alguns fatores que influenciam nas principais causas de morte materna no Brasil.
“Extremos de idade reprodutiva (mulheres que engravidam antes dos 17 ou com mais de 35 anos), falta de acesso a serviços de saúde de qualidade, baixa renda, baixa escolaridade, ausência de pré-natal adequado – são todos fatores que aumento o risco de morte materna e neonatal”, explica o especialista.
Pré-eclâmpsia em foco: relembre o caso da cantora Lexa
Recentemente, a cantora Lexa emocionou o país ao compartilhar nas redes sociais o luto pela perda de sua filha, Sofia, que nasceu prematuramente no dia 2 de fevereiro e faleceu três dias depois.
Em uma postagem nas redes sociais, a artista relatou ter vivido os momentos mais difíceis de sua vida — desde as complicações durante a gestação até os dias que passou ao lado da filha na UTI neonatal.
Lexa revelou ter desenvolvido uma pré-eclâmpsia precoce com Síndrome de HELLP, uma forma rara e grave da doença, que compromete o funcionamento do fígado e pode colocar em risco a vida da mãe e do bebê. A artista ficou internada por 17 dias, passou por diversos procedimentos médicos e deu à luz com 25 semanas e 4 dias de gestação.
“Um luto e uma dor que eu nunca tinha visto igual. Vivi os dias mais difíceis da minha vida. Foram 25 semanas e 4 dias de uma gestação muito desejada”, escreveu a cantora.
Mesmo tendo feito um pré-natal rigoroso, com uso de medicamentos como AAS e cálcio desde o início da gravidez, Lexa explicou que sua condição se desenvolveu de forma agressiva e inesperada.
“Fiz tudo certo. Tomei AAS, cálcio, fiz um pré-natal perfeito, fiz TUDO… Mas minha pré-eclâmpsia foi muito precoce, extremamente rara e grave”, compartilhou em seu perfil.
O relato da cantora reacende o alerta para a gravidade da pré-eclâmpsia, uma das principais causas de mortalidade materna no Brasil. De acordo com o Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna, em 2024, 169 mulheres morreram em decorrência de complicações hipertensivas na gestação.
Mortalidade neonatal: causas e desafios
No que diz respeito aos recém-nascidos, as principais causas de mortalidade são prematuridade e baixo peso ao nascer. Esses bebês necessitam de cuidados intensivos nas primeiras semanas de vida, exigindo infraestrutura especializada e equipes bem treinadas.
Segundo o Dr. Caio Couto: “A prematuridade é a principal causa de morte neonatal no Brasil e no mundo. Esses bebês têm mais chances de desenvolver complicações neurológicas, pulmonares e infecciosas que podem levar ao óbito.”
Desigualdade é um fator agravante
Mulheres negras, indígenas e que vivem em regiões periféricas estão entre as mais vulneráveis à mortalidade materna e neonatal. A desigualdade no acesso à saúde, aliada a fatores como idade, doenças preexistentes e condições socioeconômicas, aumenta significativamente os riscos.
“Mulheres negras e indígenas têm até três vezes mais risco de morrerem por causas maternas porque encontram barreiras no acesso aos serviços de saúde, enfrentam o racismo estrutural e com isso tem atendimentos menos qualificados, menos acompanhamentos contínuos, dificuldade de acesso ao planejamento familiar” , explica o médico.A OMS aponta que modelos de atenção obstétrica com suporte contínuo de parteiras treinadas têm demonstrado eficácia na redução da mortalidade, evitando inclusive partos prematuros e intervenções médicas desnecessárias. “Um pré-natal adequado e qualificado permite identificar precocemente fatores de risco, tratar complicações e prevenir desfechos negativos na gestação e no parto.”, finaliza o especialista.
Por: Laís Queiroz
Leia também: Mulheres com endometriose terão faltas justificadas em Portugal