CURITIBA — Professores, funcionários de escola, estudantes e servidores de diversas áreas do serviço público estadual se reuniram nesta terça-feira (29), na capital paranaense, para lembrar os dez anos do Massacre do Centro Cívico. O ato, que reuniu mais de 10 mil pessoas, teve como objetivo cobrar o pagamento da data-base, estagnada desde 2017, e dar visibilidade a uma série de reivindicações por melhores condições de trabalho e valorização profissional.
A concentração começou por volta das 9h, na Praça Tiradentes, com falas de representantes sindicais, parlamentares e líderes religiosos. Em um momento simbólico, uma mística com fumaça branca marcou o início da caminhada rumo ao Centro Cívico — local que ficou marcado pela repressão policial de 29 de abril de 2015, quando mais de 200 servidores ficaram feridos após a ação da Polícia Militar para impedir a entrada da população na Assembleia Legislativa.
Com faixas e palavras de ordem, os manifestantes seguiram pelas ruas da capital, empunhando cartazes e reforçando as pautas coletivas. Entre os temas abordados, estavam o fim da taxação previdenciária de aposentados, a equiparação salarial de professores, a defesa do piso nacional e a revogação da Lei Geral das Universidades.
A presidenta da APP-Sindicato, Walkiria Mazeto, ressaltou o simbolismo do ato: “Retornamos às ruas para mostrar que, mesmo após dez anos daquele dia de violência, seguimos na resistência. Lutamos não só pela valorização dos nossos trabalhos, mas por uma educação pública de qualidade e por serviços públicos que atendam com dignidade à população do Paraná”.
Durante o percurso, a passeata realizou paradas em frente à FIEP e ao Tribunal de Justiça do Paraná, onde foram feitas cobranças ao Poder Judiciário para que exija do Executivo o cumprimento da legislação e das decisões judiciais que garantem direitos aos servidores.
À tarde, uma comissão com representantes sindicais foi recebida por deputados estaduais na Assembleia Legislativa. Foi discutida a possibilidade de retomada das negociações com o governo, com foco na reposição da inflação acumulada, que já chega a 47%. Também foi solicitado que os educadores que participaram da paralisação tenham direito à reposição das aulas.
O episódio de 29 de abril de 2015, que deu origem à data lembrada, ocorreu após o então governador Beto Richa (PSDB) ordenar uma operação para impedir que servidores acompanhassem a votação de um pacote de medidas que prejudicava o funcionalismo. O episódio ficou marcado como um dos momentos mais violentos da história recente do Paraná, com o uso excessivo da força policial com bombas de gás, balas de borracha e agressões físicas.
Nilton Aparecido Stein, que na época fazia parte do comando de greve, emocionou-se ao relembrar: “É um sentimento de revolta. Quando uma policial nos alertou que a ordem era quebrar os dedos de quem segurasse na grade, eu entendi o nível de violência que estávamos enfrentando. Nunca esqueceremos”.
Para Celso José dos Santos, secretário-geral da APP-Sindicato, a conivência do Legislativo na época e o descaso atual do governo estadual mostram que o massacre se repete de outras formas: “Hoje o ataque é o silêncio diante das nossas reivindicações, a ausência de reajuste, a pressão nas escolas e o adoecimento das categorias. O massacre continua”.
A mobilização também contou com a presença de estudantes, que defenderam a democratização das escolas, a não militarização e mais investimentos na educação. “Em 2015, os estudantes estavam lá. E hoje seguimos na luta ao lado dos educadores, porque os ataques continuam”, afirmou Vitória Carvalho Bonfim, presidenta da União Paranaense dos Estudantes.
A manifestação se encerrou em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo estadual, com promessas de novas reuniões para a próxima semana e o compromisso dos parlamentares em intermediar as demandas junto ao Executivo.
Por Alemax Melo | Revisão: Daniela Gentil