O Brasil registrou, em 2023, o menor número de nascimentos em quase meio século. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira (16), foram contabilizados 2.543.021 nascimentos, uma queda de 0,8% em relação ao ano anterior. Esse é o menor número desde 1976, quando foram registrados pouco mais de 2,4 milhões de nascimentos.
Essa é a quinta redução consecutiva nos números de nascidos vivos no país. Desde 2018, o país tem visto uma tendência clara de queda na taxa de natalidade, o que acende um alerta entre especialistas e autoridades de saúde pública. O pico de nascimentos foi registrado em 1982, com mais de 3 milhões de registros – número que vem diminuindo gradativamente nas últimas quatro décadas.
O IBGE observa que os dados da década de 1970 podem estar subestimados por conta da subnotificação, muito mais comum naquela época, especialmente em áreas rurais e regiões de difícil acesso. Ainda assim, o comparativo com os dados atuais evidencia uma mudança profunda no comportamento reprodutivo da população brasileira.
O que explica a queda de nascimentos?
A queda nos nascimentos no Brasil é multifatorial. Entre os principais fatores apontados estão o aumento da escolaridade entre as mulheres, sua maior inserção no mercado de trabalho, o acesso a métodos contraceptivos eficazes, além de mudanças culturais que priorizam outros projetos de vida antes da maternidade ou paternidade.
Outro fator relevante é o adiamento da maternidade. Hoje, é cada vez mais comum que mulheres optem por ter filhos após os 30 anos – ou até mesmo decidir não ter filhos. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mostram que o número de mulheres sem filhos acima dos 40 anos vem aumentando consideravelmente.
Questões econômicas também têm papel central nesse cenário. O alto custo de vida, a instabilidade financeira, a falta de políticas públicas de apoio às famílias e o custo de educação e saúde privadas são alguns dos motivos citados por casais que optam por não ter filhos ou por reduzir o número planejado.
A queda na natalidade traz uma série de desafios estruturais para o futuro do Brasil. Um dos principais é o envelhecimento da população. Com menos crianças nascendo e maior expectativa de vida, a proporção de idosos na sociedade cresce rapidamente, pressionando o sistema previdenciário, a saúde pública e a força de trabalho.
Mudanças na pirâmide etária
Segundo projeções do IBGE, até 2030 haverá mais idosos do que crianças no Brasil. Isso significa uma mudança drástica na pirâmide etária, o que pode comprometer o equilíbrio fiscal do país e exigir uma nova abordagem na formulação de políticas públicas.
Economistas e demógrafos alertam que, se nada for feito, o país pode enfrentar um inverno demográfico, como já ocorre em nações como Japão e Coreia do Sul, onde as taxas de natalidade são tão baixas que há preocupação real sobre a sustentabilidade da economia a longo prazo.
Para mitigar os efeitos da queda da natalidade, especialistas defendem medidas que incentivem a parentalidade, como a ampliação da licença-maternidade e paternidade, investimentos em creches e escolas públicas de qualidade, auxílio financeiro a famílias com filhos e campanhas de valorização da maternidade e paternidade responsável.
Além disso, é necessário investir em políticas de inclusão e proteção social, especialmente para mulheres em situação de vulnerabilidade. Muitas vezes, o medo de perder o emprego ou a ausência de uma rede de apoio adequada são fatores que levam à decisão de não ter filhos.
O Brasil não está sozinho nesse cenário. Países desenvolvidos enfrentam, há anos, taxas de natalidade muito abaixo do necessário para a reposição populacional. A diferença é que, nesses países, a transição demográfica ocorreu de forma mais gradual e com maior planejamento.
No caso brasileiro, o envelhecimento da população acontece em ritmo acelerado, sem que o país tenha alcançado os mesmos níveis de desenvolvimento econômico e social de outras nações. Isso torna o desafio ainda maior.
A queda no número de nascimentos em 2023 é um retrato de profundas transformações sociais, culturais e econômicas pelas quais o Brasil vem passando. Mais do que um dado estatístico, o número revela mudanças nas prioridades das famílias, nas dinâmicas sociais e nas perspectivas de futuro.
Se por um lado esse cenário pode refletir maior autonomia e planejamento por parte da população, por outro impõe desafios sérios ao país.
Por Alemax Melo | Revisão: Lorrayne Rosseti