À medida que o mundo se prepara para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro de 2025 em Belém, no Pará, cresce a necessidade de entender os termos e desafios que cercam essa agenda global.
Embora muitas vezes usados como sinônimos, “aquecimento global” e “mudanças climáticas” têm significados distintos.
O aquecimento global se refere ao aumento da temperatura média da Terra causado principalmente pela emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO₂) e o metano, provenientes da queima de combustíveis fósseis.
Já as mudanças climáticas abrangem transformações mais amplas no clima, como alterações nos regimes de chuva, eventos extremos e aumento do nível do mar.
Mas, embora sejam distintos, esses conceitos estão diretamente ligados. Relatórios recentes da Organização Meteorológica Mundial (OMM) — agência da ONU especializada em clima —, alertam que o planeta caminha para temperaturas recordes, com o Ártico aquecendo mais de três vezes acima da média global.
Segundo o OMM, a temperatura média global próxima à superfície deve ficar entre 1,2°C e 1,9°C acima dos níveis pré-industriais até o fim de 2029, cenário que tende a intensificar eventos climáticos extremos.
Segundo o levantamento, há 80% de chance de nos próximos cincos anos o aquecimento global ultrapassar os 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais — marca que representa o limite estabelecido no Acordo de Paris.
2024: Um marco alarmante
De acordo com o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), 2024 foi o ano mais quente da história, com temperatura média global excedendo pela primeira vez 1,5°C acima da média pré-industrial. O aumento das temperaturas está diretamente associado ao aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos como ondas de calor, secas severas e inundações.
Em entrevista ao MD News, Lorë Kotínski, pesquisadora em ESG (Environmental, Social, and Governance – Ambiental, Social e Governança) e doutora em Informação e Comunicação, explica, na prática, o que está por trás dos eventos climáticos extremos.
“O aquecimento global tem absolutamente tudo a ver com os eventos climáticos extremos, como El Niño (aquecimento) e La Niña (resfriamento), que estão cada vez mais intensos. Isso acontece porque a emissão de gases de efeito estufa, principalmente CO₂ e metano, está criando uma espécie de ‘estufa’ em torno do planeta”, informa a pesquisadora.
Kotínski explica que esses fenômenos contribuem para o aumento da temperatura global, o planeta não respira de forma adequada e acaba aquecendo mais, provocando o derretimento das calotas polares e a elevação do nível do mar.
“Essas mudanças afetam diretamente o regime de chuvas. Além disso, o desmatamento é um fator forte para o aumento da concentração de carbono na atmosfera”, disse Kotínski.
A pesquisadora destaca que tudo está interligado: clima, economia, saúde e bem-estar da população. “Um planeta mais quente significa mais deslocamentos humanos, menor qualidade da água e do ar, além do aumento de doenças”, afirmou.
“As consequências são visíveis: chuvas excessivas fora de época, secas extremas como vimos na Amazônia entre 2023 e 2024, e inundações como as do Rio Grande do Sul. E o mais grave é que alguns países e cidades insulares correm risco real de desaparecer até 2030 se não houver mudanças imediatas”, alertou Lorë Kotínski.
O papel da COP30
A COP30 representa uma oportunidade histórica para o Brasil exercer protagonismo na agenda ambiental global, cobrando compromissos dos países participantes. Como anfitrião, o país poderá articular metas mais ambiciosas de redução de emissões e de preservação de biomas, como a Amazônia.
Segundo Kotínski, o Brasil enfrenta um grande desafio: sair da conferência com um documento concreto, assinado por todos os países presentes, que demonstre não apenas o compromisso, mas também o caminho prático de como cada nação irá contribuir com a redução dos danos climáticos.
A especialista ressalta também a importância de frear as grandes empresas exploradoras de recursos naturais e apresentar um desenvolvimento sustentável.
“É fundamental frear o desmatamento descontrolado e demonstrar que é possível promover o desenvolvimento econômico sustentável utilizando, de forma responsável, áreas que já foram exploradas e desmatadas”, disse.
Foto: Ibama-Am/Reprodução
A pesquisadora destaca que um dos principais objetivos do encontro será garantir que as nações assumam publicamente a responsabilidade de desacelerar as emissões de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO₂) e o metano (CH₄), principais vilões do aquecimento global.
E, para além das ações governamentais, Kotínski ressalta que cada cidadão também tem um papel neste processo:
“Adotar o consumo consciente, evitando desperdícios de energia e água e comprando apenas o necessário, são atitudes simples que pode gerar um grande impacto”, alertou.
Questionada sobre as expectativas em relação à COP30, ela avalia: “A curto prazo, ainda vejo poucas ações concretas além das iniciativas já implementadas pelo governo federal. Mas acredito que a COP30 representa uma oportunidade real para o Brasil assumir o protagonismo climático”, concluiu Lorë.
Por Indra Miranda | Revisão: Redação
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