A partida entre Operário-PR e América-MG, válida pela sexta rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, no último domingo (4), terminou em caso de polícia e forte repercussão após o meia Miguelito, do América-MG, ser acusado de proferir injúria racial contra o atacante Allano, do time paranaense. O caso foi tratado como flagrante pela Polícia Civil e o atleta permanece preso em Ponta Grossa, no Paraná, à espera de audiência de custódia.
O episódio ocorreu por volta dos 30 minutos do primeiro tempo, quando os jogadores se desentenderam após uma disputa de bola. Segundo relatos de Allano e do volante Jacy, companheiro de equipe, Miguelito teria chamado o atacante de “preto do c@ralh0”. A denúncia foi feita ainda em campo, e o árbitro Alisson Sidnei Furtado interrompeu a partida, cruzando os braços em forma de “X” símbolo do protocolo antirracista adotado por Fifa e CBF.
A partida ficou paralisada por cerca de 15 minutos, mas foi retomada sem aplicação de sanção imediata ao atleta, que foi substituído no intervalo por decisão técnica.
Após o jogo, a Polícia Militar conduziu Miguelito, Allano e Jacy à 13ª Subdivisão Policial de Ponta Grossa. O delegado Gabriel Munhoz confirmou a prisão em flagrante do jogador boliviano com base na Lei nº 7.716/1989, que trata de crimes resultantes de preconceito por raça ou cor, e também com respaldo da Lei nº 14.532/2023, conhecida como Lei Vini Jr, que equipara a injúria racial ao crime de racismo considerado imprescritível e inafiançável no Brasil.
Com a nova legislação, a pena para esse tipo de crime pode variar de dois a cinco anos de prisão, além de multa. A lei foi sancionada após episódios de racismo contra o jogador brasileiro Vinícius Jr. na Europa e tem o objetivo de endurecer o combate ao racismo no futebol e em outras esferas sociais.
O delegado ressaltou que, embora as imagens da transmissão não tenham captado diretamente a fala, os depoimentos das testemunhas foram considerados consistentes e suficientes para configurar o flagrante.
Operário se manifesta e torcida protesta
Em nota oficial, o Operário lamentou a continuidade da partida e criticou a ausência de punição imediata. “Allano denunciou falas racistas do camisa 7 do América-MG à arbitragem. O árbitro fez o gesto de X, que aciona o protocolo antirracista, e mesmo assim a partida foi retomada normalmente”, declarou o clube, que também reforçou estar oferecendo apoio psicológico e jurídico ao jogador Allano.
Durante a paralisação, torcedores do time da casa protestaram e arremessaram um copo com líquido na direção do banco de reservas do América-MG. Um dos responsáveis foi localizado e retirado do estádio pela polícia.
Miguelito permanece detido em uma cela da 13ª SDP de Ponta Grossa e deve passar por audiência de custódia nas próximas horas. A expectativa é de que o inquérito policial seja concluído até o fim da semana.
Até o fechamento desta reportagem, nem a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) nem o América-MG haviam se manifestado oficialmente sobre o caso. A súmula da partida indica que nenhum membro da equipe de arbitragem presenciou diretamente a injúria racial.
Por Alemax Melo | Revisão: Daniela Gentil